SerVida

 Eu, toda feita de barro, tal como artesanato, me moldo, me faço e refaço. Às vezes aos cacos que derreto no fogo bravo da Vida, me dou novas formas, novas fôrmas. Eu, feita de barro. Me pinto, celebro no colorido tinto, no colorido vivo que a natureza dá. Eu, toda feita de barro, seria feita pra enfeite? De que matéria é feita a Vida, pra que servimos todos nós? Haveríamos de sermos feitos para enfeite? Eu, toda feita de barro, enfeito a natureza. Que resistência temos em sermos ornamento, sermos feito tal qual paisagem. Acaso não sabemos que o mesmo fruto, a mesma flor que enfeita é feita pra multiplicar vida. Pra multiplicar Vida. Ser Vida. Eu, toda feita de barro, Ser Vida, sendo a xícara que carrega a água que mata a sede, quem sabe, dos vermes que me comerão a fria carne. Eu, toda feita de barro, enfeito a Vida de quem me tenha feito. Sou feito pássaro engaiolado no tempo presente, no corpo presente. E canto. Eu, toda feita de barro rejeito ser vir de recipiente à agua parada e flores tiradas da terra para morrer a servir de enfeite pra quem não entende que a vida é Ser Vir, a ser. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A divina dança

Espiral

Blues Mulher