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Mostrando postagens de agosto, 2017

Tempos em que sentimento é pecado...

Jamais sentir vergonha de sentir. Vivemos um tempo em que sentimento é pecado. Só vale o enlatado, em formato preestabelecido. Quero amor irrompido, qualquer relacionar-se aprendizado, construído, dividido, compartilhado. Chega de compartilhar egos, compartilhemos afetos. Dividir, sentir sem se envergonhar. Tenho mais receio de não sentir, de não amar.

O velho e o moço (Los Hermanos)

Deixo tudo assim não me importo em ver a idade em mim ouço o que convém eu gosto é do gasto sei do incômodo e ela tem razão quando vem dizer que eu preciso sim de todo o cuidado e se eu fosse o primeiro a voltar pra mudar o que eu fiz quem então agora eu seria ahh tanto faz e o que não foi não é eu sei que ainda vou voltar mas eu quem será? deixo tudo assim nao me acanho em ver vaidade em mim eu digo o que condiz eu gosto é do estrago sei do escândalo e eles tem razão quando vem dizer que eu não sei medir nem tempo e nem medo e se eu for o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado ahhh ora se não sou eu quem mais vai decidir o que é bom pra mim dispenso a previsão ahhh se o que eu sou é tambem o que eu escolhi ser aceito a condição vou levando assim que o acaso é amigo do meu coração quando fala comigo quando eu sei ouvir

Tempo

Tempo. O tempo que não se dá e que se sabe que precisa. Mas a fome não sabe esperar. Sentimento é uma forma de fome.

Consolo

Tem gente que procura livros, poemas, filmes, artes visuais pra se consolar. Eu procuro minha própria poesia. Tenho uma saudade imensa do que nunca vivi, do nunca li, do que nunca escutei. Há um mundo imenso pra se descobrir e se viver. Estamos à porta da vida. Vivemos um tempo que não espera e que está à espera.

Amor ao reverso

Te odiei como nunca odiei ninguém, nem meu agressor. Bem que dizem por aí que o ódio é o reverso do amor. Te quis bem, me preocupei contigo, larguei meu egoísmo, trombei de frente com o seu...No espelho reverso de um passado não tão distante descobri o mal que fiz a alguém pelo mal que vc me fez... Bem ou mal, aprendi com vc... E me encontrei, quando te encontrei estava tão perdida... Mas é a vida, agora quem se perde é você... Sei que não quer meu mal, que talvez não me queira, ou ainda queira sem saber... Mas está tão perdido dentro de vc... E eu quis ajudar, mas agora não dá... Pq me machuquei todas as vezes em que tentei e, chega. Não quero mais me machucar. Agora que cheguei ao fim desse meu desamor, eu quero mais amor, eu dobro a vida em flor, chega de mal-me-quer, de migalhas, da hora em que der... Seja o que for, sei que vai se encontrar, ao me desencontrar, como eu me encontrei entre nossos encontros e desencontros. Parece até um conto, quando eu me conto, me dou conta, amor à

Nada de mimimi

Lá em casa já diziam: o que num mata, engorda. Nunca tive ninguém pra soprar meus machucados.

Ciclo da vida

Se eu soubesse desenhar, desenharia uma mulher pássaro em pleno vôo. Depois a desenharia pousando para se alimentar, acasalar e fazer ninho. E fios, que a enroscariam em cada afeto criado. Seriam então fios, uma mulher pássaro fantoche. Então ela cortaria com o bico cuidadosamente cada fio, até se desprender e voar novamente. Mas seria um ciclo, porque ela tornaria a ter necessidade de alimento, pousar, se afetuar, criar laços, cortar nós e tornar a voar e voar. Um ciclo.

Luta não se faz, faz-se de luta

Viu que aquilo ali não era o seu lugar. Prefere seu não-lugar de sempre, em trânsito, onde se permite existir, dona de si. Cheia de contas a pagar, resistindo à vida dura, em luta cotidiana, vai correr atrás, como sempre fez. Não carrega culpas a serem expurgadas, nada nunca lhe veio de mão bejada. Sua resistência tem sido cotidiana, desde que se entende por gente. Sua carteira não-assinada nunca foi escolha. E trabalho nunca foi necessariamente emprego. Sua luta, sua disputa, sua base tem sido feita, seu preço tem sido pago. Resiste aos capitães do mato e protege suas crianças, há tempos. Não precisa de ninguém que lhe dite como se faz a luta. Se fez de luta, sua vida é assim.

Vida Loka parte 2

Vida Loka e resistência não é escolha. Não é do tédio. Tá em crise? Experimenta ter contas pra pagar e o plano de saúde dos seus velhos depender do seu salário. Se a crise persistir, é existencial. Se não é, é tédio burguês, daí vc vai ser resistência pra aliviar a mente culpada. Pra nós, ZS, a resistência é cotidiana e coletiva, sem precisar de coletivos. Vê se entende. Zé povinho eu lamento. Vê se me erra. "Firmeza total, mais um ano se passando Graças a Deus a gente tá com saúde aí, morô? Muita coletividade na quebrada, dinheiro no bolso Sem miséria, e é nóis Vamos brindar o dia de hoje Que o amanhã só pertence a Deus, a vida é loka Deixa eu fala procê Tudo, tudo, tudo vai, tudo é fase irmão Logo mais vamo arrebentar no mundão (...) Champagne para o ar, que é pra abrir nossos caminhos Pobre é o diabo, eu odeio a ostentação Pode rir, ri, mais não desacredita não É só questão de tempo, o fim do sofrimento Um brinde pros guerreiro, zé povinho eu lamento Vermes qu

Sete vidas

Vai procurá-la, mas não vai encontrar. Tal qual no filme, quem deixa é ela. E ela já sabia, pq tem sexto sentido de bruxa. Queima na fogueira, a Geni. Mas tudo isso é literatura e a vida segue em rumos e caminhos desconexos. Viveu outras vidas, escaldou como gato. Como gato, encontrará sua morada como deusa, não como fogueira. Aos ratos, resta virar os lixos em busca das migalhas que deixou. Lembrou-se que era gata, parou de se sujar no lixo dos restos.

Eureka

De repente, caiu a ficha em sua mente: - Perdeu, playboy!

Fim

De repente ele percebeu que o silêncio dela era pior que suas infinitas palavras...

Vou sair sem bater a porta

Eu vou embora, vou sair sem bater a porta e vc nem vai perceber... Vou sem nunca ter pedido nada, pq cumplicidade não é cobrada, há de acontecer... A gente divide a vida com mil pessoas se tiver o que dar, mas se não há o que ofertar, é só migalha pra oferecer... Eu vou embora por mim, não por vc. Ninguém me merece, não é uma questão meritocrática. Pelo contrário, a ideia é socializar, é compartilhar, não é só receber. Eu tolero pq não espero nada de ninguém. Mas eu não espero, e no dia em que eu acordar decidida e me arrumar, de batom vermelho, sorriso largo, respiração profunda e olhos marejados, eu vou embora, vou sair sem bater a porta e vc não vai nem perceber...

Heresia

Difícil não cair em tentação. Seu pecado pessoal, desejar entregar seu mundo aos cuidados de outrem. Dos pecados religiosos não sentia culpa, entregava-se à libertinagem sem desculpas, curtia especialmente a gula e a luxúria. Mas da ética protestante burguesa sentia fobia, tornar propriedade, estatal ou privada, seus sentimentos e ações. Difícil não cair em tentação. Precisava confessar seus pecados. Falava, escrevia, palavras a fio pra confessar a culpa do seu desconforto em cair em tentação. Não era em vão. Ao final, respirava aliviada, fazia a oração do amor correspondido pensando no oral correspondido. Colhia das verdades cristãs apenas o esforço de amar à próxima como a si mesma. Esforçava-se em não se sentir indivíduo acima de todas, competitiva, indiferente. Seus pecados pessoais os quais precisava confessar era cair na lógica burguesa, privatizar vidas e sentimentos, assinar contratos de sociedade vendendo sua liberdade em troca de garantias ilusórias de uma ética meritocrática

Reflexões burguesas

Fazia um esforço, um exercício de autoboicote, uma espécie de choque mental behaviorista toda vez que pensava nele, era pra ver se esquecia por um lapso de tempo... Era um exercício de autocensura. De repente se deu conta da palavra: censura. Apenas a palavra tortura lhe dava mais calafrios que a palavra censura... Entendeu que não gostava disso. Era capricho. Lembrou-se de um amor antigo, um dialogo desses de namorados juvenis apaixonados, algo como "vai lembrar de mim?" e a resposta, o trunfo cênico do poeta apaixonado, "não dá pra lembrar de quem nunca se esquece"... Apesar do efeito plástico da frase, por vezes, como há tempos (e deus, quanto tempo!), a frase cênica ultrapassava seu sentido plástico e se fazia realidade... Por isso a ideia inicial do exercício de autocensura (ui, que pavor que ela sentia sempre que repetia em pensamento esse querer se censurar...), idealizava não se deixar roubar por sentimentos romantizados. Num caos cênico desses que a vida às

Mundo moderno, velhas histórias

Ele era o cara mais idiota que ela já tinha conhecido. Mas ela gostava do seu jeito atrapalhado. Tanto ego pra esconder um universo de inseguranças... Lhe parecia algum tipo de espelho... Seu afeto, então, era um gesto narcísico. O que refletia era um portal no tempo, erros e acertos que ela já tinha cometido. Mas sua conta viera cara, pra ele parecia que não dava nada. O mundo é injusto, disso ela já sabia. Já sabia dessa diferença social de ser ela e de ser ele. Mas ela não queria nesse momento saber de injustiça social, ela queria saber desse apelo carnal, encontro de peles e gostos; ela queria era saber desse universo espiritual, encontro de almas. Ele, não queria saber de nada. Mas ela, não sabia se gostava dele, ou se nesse seu eterno jogo cósmico de repetir a lógica dos deuses, não sabia se gostava dele ou se gostava de gostar.

O mundo dela

No mundo dela, ela gostava de ideias simples, desmassificadas... Gostava de ideias clássicas, música antiga, jazz ou blues num inglês que não entende, um bom vinho meio seco, chocolate meio-amargo depois de comida saborosa, um cigarro queimado devagar a devagar, um livro interessante, nada de romance água com açucar, uma boa filosofia talhada em narrativa, filosofia, algo pra pensar e apreciar... Gostava da solidão em alguns dias, sem falar, se explicar, explicar, ouvir, só sentir... E calar. No mundo dela, ela gostava de coisas inesperadas. Ela gostava das ideias que tinha sobre as pessoas e situações, coisas que nem sempre se concretizavam no viver de fato. Ela gostava do mundo das suas ideias. No mundo dela, a vida era feita de sensações.

Sem mas nem porquê

Não saber o que dizer... Nem sim nem não nem talvez... Não saber se perder, não sentir se encontrar... Não saber se é errar feio ou acertar por acaso... Ouço críticas, sinto cumplicidade.. crime imperfeito e sem planejamento.. um tropeço e de repente é isso aí, ou não é nada disso... Confuso ou esclarecido, talvez seja só isso, talvez seja isso tudo, talvez já tenha sido, já foi... Não saber o que sentir, mas não deixar de sentir e nem sentir demais... Talvez seja tanto faz, talvez faça questão... Talvez seja em vão, talvez seja maldição, talvez seja paixão. No final não importa. Importa viver. Sem mas nem porquê.

Escolho a solidão das ideias próprias

Escolho um caminho solitário. Nada de solidão. É apenas o passo de se caminhar por ideias próprias, nada do que esteja préestabelecido pelos já conhecidos discursos. Posto que todo discurso que entra em cena porque deseja radicalizar com as ditaduras de comportamento tende a se tornar uma ditadura de comportamento... E arrisco descobrir que poucos querem construir além do próprio ego num desejo insano de se encontrar, refletem seu ego e suas angustias como verdade absoluta... E transformam em luta uma resistência em ser. Ser constrói-se em ato cotidiano, nada de engano. Sigo meu rumo, marchando contra o ego de querer-me construir a base de luta coletiva e refletir minha self como ato heroico. Egoico, o ser desses nossos tempos de nada ser.