Filha da terra

Quero muito me encontrar... Procuro pela minha verdade num mundo de pós-verdades e notícias cheias de mentiras... Ainda falo em português, pareço ser uma das últimas que ainda segue utilizando esta língua... Mas tenho me aberto à outra, a nova colonização, já não é a primeira, oxente xamã mirim, agora o fim é the end... Quem entende... Quem me entende?... Já pouco importa, farejo o cheiro da minha verdade... Eu busco nas minhas histórias... Quero dar cursos, fazer aulas, lives, vlogs... Procuro no acervo, de tudo que estudo, de tudo que vejo... Ainda não tem a cara da minha gente... Ainda não tem a cara da minha gente... Minhas mulheres ainda não tem voz... Nem rosto. Talvez tenham nome. São essas marias que benzeriam e saberiam bem ao certo a reza braba, o alimento santo, o chá da terra pra curar essa peste. Saberiam curar os corações feridos da morte, guardando bem os mistérios da vida e do além... saberiam dizer que o barco que traz é o mesmo que leva e que ninguém há de partir sem lhe ser a hora certa... Minhas mulheres tem a sabedoria da vida além da morte. Suas histórias não estão nos livros, nem sei bem mais quais são seus cantos... Uma leva de gente branca que ignora seus prantos lhe usurpa as crendices e vende made in workshops... Não sou filha das mães pretas, que muito respeito,(de quem tb pouco se ouve a voz...). Sou filha das caboclas do mato, laçadas e lançadas a própria sorte... Me dói ainda suas noites de abusos de neguinha da terra, a quem embranqueceram seus filhos, frutos do próprio estupro. Sou filha das filhas da terra. Branca de pai. Cabocla de alma. Eu escrevo o que minhas mulheres não puderam dizer... Pouca gente lhes conhece além do folclore das poucas palavras, sabedoria vasta, difícil de descrever. Elas não estão nos livros (nas histórias dos homens brancos, talvez lhes estejam as coxas...), me estão na alma, me cantam a alma, me encantam a alma, e pedem pra mim lhes dizer... Procuro meu caminho, que devo fazer... Elas me mostram a mata, me pedem que siga, por entre elas, pra dentro de mim, hei de me des-cobrir se lhes re-conhecer.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A divina dança

Espiral

Blues Mulher