Amor em tempos de ódio

Não sei se falo de amor ou de política. Mas acho que falar de política hoje é falar de amor. Em tempos de ódio, o amor é resistência. Antes do ódio, sua mãe foi a indiferença. Antes dos sentidos, o coração partido, a insensibilidade, a incapacidade de sentir. De sentidos, de rumos, nos descaminhos, à espera do caminho, terra prometida, bússola, cartilha, rumo certo, medo do incerto. Engana-se quem pensa que responsáveis são apenas os que odeiam assumidamente. Responsáveis são também os incapazes, covardes, mancos de sentimentos. O amor só nasce no coração dos corajosos. De quem assume a covardia de suas incertezas, num ato heróico de coragem. São tempos de certezas, de verdades absolutas, da liberdade imperativa, da felicidade ditadora. O amor, como a sabedoria, nasce da covardia e das incertezas, ou melhor, da superação dos medos e das dúvidas. Da aceitação das sombras e dos múltiplos caminhos, da assunção das escolhas que renunciam. Eu queria falar do amor que eu sinto e do abraço onde eu queria estar. Mas estou honrada da minha coragem de me abraçar e do meu amor que a mim mesma me acalenta. De ter a quem dar as mãos, são amigues e família, são seres de luz que recolhi pelo caminho, a quem olho e me ilumino, que me aquecem e dissipam o medo que sinto. Ao amor de outrem, ao abraço não dado, eu sinto muito a incapacidade de superar a covardia. De não dividir comigo a véspera do dia difícil e a solidão de se estar cercado de votos de ódio. Ainda bem que dorme comigo o amor próprio e os sonhos sutis.

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