Flor regada à tempestade

Tem dias em que rio e apenas rio... O riso é rio suave, leva consigo muita coisa pelo caminho rumo ao mar... Mas tem dias em que a revolta bate, é tempestade a trovejar...Tempestade que não lava a alma, pq leva o mundo, destroi casas, carros e viadutos... E quem disse que era pra ter tanta matéria em meio ao mundo, onde a tempestade não possa apenas ser sem destruir... Me sinto assim, cheia de trecos dentro de mim, fora do lugar... Mas a revolta bate quando me dou conta de que tal como a terra, natureza viva, fui tirada de minha pureza por ganâncias de homens vis... Sociedade que nos violenta, mininas, mulheres, de tantas formas, como não respeitam mãe terra, quebram galhos, cortam árvores, ceifam vidas, envenenam onde deveria nascer apenas vida... É difícil não se sentir aturdida... Com seu sagrado profanado, cheio de bagulhos, que sou eu mesma, coisa por coisa, jeito por jeito vou dando um jeito de tirar de cá de dentro... Tão cansativo tudo isso, não posso nem trovejar e me inundar de tempestade que é caotico desolamento, põe fim a sentimento esse meu jeito de transbordar e arrastar tudo ao redor... E daí cansada de tirar tralhas eu me recolho e me cuido, sempre eu, com ajuda das amigas, dando a mão, suspirando, respira fundo, fortalece, borda mundo que o que se tece é do que vamos dando jeito dos cacos pelos caminhos... Sempre a gente, nós por nós mesmas... Agradecendo a graça de não ter sido violentada hj, agradecendo a gentileza prestada como presente como se não fossemos obrigadas a ser gratas sempre... Mas a revolta bate, bate, bate... Não tenho ódio de homens, tenho ódio do direito de seguirem, sãos e sadios, vadios, enquanto nos sustentamos umas as outras e ao mundo... Ódio de classe eu tenho, até das manas que podem pagar pela sabedoria ancestral que nos foi roubada quando colonizada e hj é moda ritual de cura. Enquanto a vida dura seguimos com as contas na mão a pagar, mendigando um lugar de silêncio e paz, silenciando revoltas, comendo dias inglorios para que não se transformem em veneno a nos secar por dentro antes da vida acabar. Quando sorrio, gargalho, minha risada é resistência, é flor da aparencia nascida das lágrimas que secaram e regaram toda dor da existencia e assim eu dobro a vida em flor (de espinhos) e sigo meu caminho, sorrindo.

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