Ritmo e cicatriz

Seria um sonho saber com menos propriedade sobre violências... O tapa na cara sempre volta... O tapa que nunca recebi, o guspe que nunca caiu... Mas que tava ali e dava pra sentir, apesar de sentir coisa pior...  A porra na cara que era assinatura de humilhação disfarçada de tesão... Eu prefiria não saber dos papos de boteco... Do eco das falas escrotas, os discursos que são usados, reproduzidos pra nos usar... Eu sonhava coisas tolas e lindas e não tinha pesadelos... Não era inocencia, que essa já nem sei mais quando foi que a perdi... Era ingenuidade, incredulidade, o não saber, não reconhecer... A dor doia algumas horas, algumas vezes tão bruta... Eu dilacerava a própria pele, o fio da navalha, a pele que descorava, doia menos, bem menos do que latejava lá dentro mas eu não sabia exatamente de onde vinha... Me iludia que era dor do tédio sem nem mesmo ser burguês... Dor concebida, dor que se analisa, dor reconhecida, tem cara, tem cheiro, fede, lixo que se reconhece... Quem é que quer viver assim?... Dizem esquece, se esqueça, se entorpeça, boas energias pra você... puta que o pariu, gratidão não me falta... Dia a dia, passo a passo, é assim que sigo... Mas eu não minto mais pra mim... Pra mim não... Posso mentir pro mundo que no fundo não quer mesmo ouvir... Supere! Ressignifique! ok... ou não... Tem dias que tudo bem, já passou, amanhã é outro dia... Mas enquanto não houver garantias de que tudo isso enfim tenha fim... Que não sou apenas eu, não é só comigo... Cada mulher é uma história de dor... Às vezes é como se eu não pudesse nem mais gritar, resta chorar em silêncio... É como se eu não pudesse mais gritar já que há tantas de nós a se consolar... E é por isso que a dor doi menos, mas ainda doi...  Eu queria fechar essa poesia com poesia, ritmo, energia, positividade... Mas tem hora que é só alarde, não tem como apaziguar...

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