Carta para o tempo

Procurei em quase todo sorriso tímido pelo qual me encantei a sua timidez, um charme natural. Ainda posso ver você dançando desajeitado, tempos perdidos. Foi ali que eu me encantei, nunca te contei, foi antes mesmo de te conhecer, e a blusa listrada azul e preta, lembrava a do Freddy Krueger. Ainda posso ver seus olhos castanhos, e eu perdida na profundidade daquele olhar que até ali nunca me encarou, e o cinema mudo que se segue nessa cena, até o ônibus do Grajaú atracar. A tempestade que chegou e o guarda chuvas enorme de filme, o som melódico do ritmo da chuva de verão, eu observo o moço tímido com receio do quartel, são dezoito anos e uma estrela do PT no boné. Parece que eu nem ligo, mas observei cada detalhe. Foi a única vez na vida em que eu observei cada detalhe de alguém. A dor do detalhe impregna. Já não chamo mais de dor, chamo de saudade. Saudade tem beleza, felicidade e tristeza, tudo conjugado. E a certeza de que se viveu feliz. E feliz de quem sabe que foi feliz, felicidade é sentimento que não se esquece nem se desaprende. Tem sabor de tardes nossa felicidade, ritmo de Legião. Frases e frases, cartas e refrões. E a falta de um adeus que jamais soubemos dar. Seguimos nos encontrando aqui, no mundo de palavras sem fim. Que a literatura nos perdoa e não nos condena, sem erros nem palavras infiéis. Sem desentendidos, apenas subentendidos, mensagem subliminar. Au revoir.

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